sábado, 30 de dezembro de 2023

A caminho da aldeia de Emaús

 

Lucas 24: 13. Naquele mesmo dia, dois dos discípulos de Jesus estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, que fica a cerca de onze quilômetros de Jerusalém.

Aquele mesmo dia era o domingo da ressurreição. Jesus havia ressuscitado de madrugada. Ainda de manhã tinha aparecido a Maria Madalena. Pedro e João haviam testemunhado o sepulcro vazio.

Dois discípulos estavam de caminho pra sua aldeia. Não acreditaram na ressurreição. Haviam presenciado a crucificação. Tinham informações do sepultamento. Mas não tinham visto Jesus ressuscitado.

Tristes, abatidos, decepcionados, voltavam pra casa como quem volta de um enterro. Jesus não teve um cortejo até o túmulo. Mas estes discípulos faziam seu cortejo particular, para si mesmos enquanto começava sua longa caminhada fúnebre.

Estavam voltando pra sua aldeia após terem enterrado sonhos, planos, expectativas, esperança, após terem enterrado Jesus.

Quantos estão assim... há tanto tempo em uma caminhada fúnebre, tristes, abatidos, decepcionados, após terem enterrado tantas coisas.

 

Lucas 24: 14. Enquanto eles caminhavam, iam falando a respeito de tudo que tinha acontecido.

A caminhada fúnebre é devagar, quase se arrastando. A conversa pesarosa. Duas pessoas tristes conversando só podem concluir cada assunto em concordante pessimismo.

Falavam da crucificação, do sepultamento, até da notícia do sepulcro vazio, mas não conseguiam acreditar. A maior decepção foi não ter acontecido do jeito que eles queriam. Ver Jesus ser coroado Rei de Israel nessa última entrada em Jerusalém.

Só conseguiam concluir que tudo estava acabado. Os milagres que viram, as palavras que ouviram estavam apagadas pela tristeza do coração.

Assim, deixam Jerusalém, o lugar onde Jesus havia dito para ficarem esperando a promessa, o derramar do Espírito, e vão tentar acomodar-se na sua velha aldeiasinha.

Hoje, muitos fazem essa mesma caminhada sozinhos, conversando assim "com os seus botões", com o seu próprio pensamento. Decepcionados porque as coisas não saíram como planejado, conforme o seu desejo.

 

Lucas 24: 15-16. Enquanto assim comentavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou, e ia com eles, mas os olhos deles estavam como que fechados, de sorte que não o reconheceram.

Enquanto a triste caminhada acontecia. Enquanto falavam, argumentavam, discutiam, Jesus Ressuscitado se aproximou deles e foi caminhando junto com eles e os ouvindo.

Eles não reconhecem que é Jesus. Seus olhos estão fechados por conta das emoções abaladas. A princípio, Jesus somente caminha ao lado, sem dizer palavra alguma.

Na caminhada triste ,Jesus se aproxima. Jesus está presente. Jesus escuta os nossos pensamentos e as discussões dos nossos corações.

Embora a maioria das vezes não O enxergamos, Ele está presente nos momentos mais tristes da caminhada. Ele está próximo, está vivo. Caminha ao nosso lado, atento às palavras de nossa boca, aos pensamentos da nossa mente e até aos sussurros do nosso coração.

 

 Lucas 24: 17. Então lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.

Jesus se aproxima, caminha junto, escuta, mas chega o momento Dele entrar no assunto. E Ele tem uma maneira estratégia de fazer isso - faz de conta que não sabe de nada, mas ao mesmo tempo é bastante incisivo.

O que é isso que te preocupa? O que que te decepcionou? O que fez você empreender essa caminhada triste?

Jesus acompanha, ouve, "dá corda" até que chega o momento de interferir.

Jesus quer entrar no assunto dessa decepção. Quer saber mais coisas... quer conversar sobre isso... na verdade Ele quer falar sobre isso, para curar toda tristeza. Para sarar toda mágoa. Para reverter toda decepção.

E quando Ele faz essa interferência os discípulos tristes levam um choque de realidade - param entristecidos, pensativos, perplexos, imóveis.

Até a própria caminhada parou!

Sim, a caminhada fúnebre tem que parar, ainda que seja necessário um choque de realidade.

Sim, a caminhada fúnebre tem que parar de alguma maneira - pois chegou a hora de conversar com Jesus.

 

Lucas 24: 18-26 (...).

Cleopas começa a falar, a princípio com desdém e ironia. Mas Jesus faz de conta que não sabe de nada, dando-lhes a oportunidade de contar tudo.

Eles esperavam que Jesus se tornasse rei de Israel, mas ele foi crucificado e já era o terceiro dia. Tinham o relato das mulheres e o testemunho de Pedro e João (Lucas 24: 1-12 / João 20: 1-10). Então concluem: "Mas não o viram".

Eis o motivo da decepção e da caminhada fúnebre.

1) Acreditar em algo que o seu próprio coração criou e não aconteceu (Jesus feito rei de Israel).

2) Não acreditar na ressurreição diante dos testemunhos, das Escrituras e do que o próprio Jesus já tinha avisado antes, e não saber esperar mais provas.

Pronto ! Conversando com "O Médico dos médicos", o diagnóstico é perfeito.

"Não acreditar na Ressurreição. Não acreditar nas palavras que Jesus falou traz decepção e tristeza".

E o remédio para a caminhada triste é a Palavra de Deus que esclarece e vivifica.

 

Lucas 24: 27. E começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.

Após a argumentação de Cleopas, Jesus os chama à atenção por não terem entendido nem acreditado nas Escrituras.

O questionamento é: "Pôxa vida, vocês nunca leram nem ouviram que O Cristo ia padecer e entrar na Glória"?

Em seguida, lhes explica a Bíblia, especificamente as passagens que se referem ao Messias.

Acredito que quando Jesus começa a expôr as Escrituras a caminhada que havia parado também reinicia. E a cada passo ouvindo Jesus, a cada passagem da Bíblia que ouviam a tristeza ia deixando seus corações, a decepção ia ficando para trás.

O remédio para os passos tristes, para a caminhada da decepção, para o percurso fúnebre é a Palavra de Deus.

Depois (Lucas 24: 32), eles vão relembrar e testemunhar que o coração ardia quando Jesus lhes expunha a Palavra de Deus.

E assim aquela longa caminhada de onze quilômetros chega ao fim.

"Nessa longa caminhada da vida que você tem feito, escute a Palavra de Deus, deixa Jesus falar contigo, sinta seu coração arder e assim a tristeza vai embora, a decepção ficará para trás, o desapontamento não existirá mais. Deixa Jesus reconquistar você".

 

 Lucas 24: 13-27. (...)

Percebo três fases progressivas na caminhada dos dois discípulos rumo a Emaús.

A primeira fase - extremamente fúnebre, entristecidos, preocupados, decepcionados, frustrados, pensativos, discutindo os últimos acontecimentos e sozinhos.

A segunda fase - Jesus se aproxima deles, caminha com eles, escuta o que eles estão conversando, mas eles nem ligam e nem reconhecem que é Jesus. E Jesus aguardando um momento apropriado para entrar na conversa.

A terceira fase - é quando Jesus explica as Escrituras. Jesus fala ao coração deles a ponto de arder. Então a caminhada termia.

A caminhada das nossas vidas também pode passar por fases. Pode haver tempo e percurso difícil, quando vemos muitas coisas sendo "enterradas" e não entendemos, ficamos sozinhos.

A segunda fase é quando continuamos na prova, na dificuldade extrema mas não percebemos que Jesus caminha conosco aguardando uma reação nossa para agir.

E a melhor fase é quando Deus interfere na nossa caminha triste e muda todo o teor dela, fazendo nosso coração arder pelas Suas Palavras.

 

Lucas 24: 28. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez Ele menção de passar adiante.

Para Zaqueu (Lucas 19: 5), Jesus disse: - "Desse depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa". Para esse dois discípulos no caminho de Emaús, Jesus não se convidou pra ficar na casa deles e ainda fez menção de passar adiante.

Deixa um "vácuo", que na verdade é uma oportunidade para reação.

Jesus tinha caminhado com eles, os ouvido, já havia explicado as Escrituras, e quando chega próximo de suas casas, faz menção de deixá-los.

Apesar dos olhos deles estarem impedidos de reconhecer Jesus, os coraçãos não estavam impedidos de sentir - pelo menos, ardia.

Muitas vezes nós também ficamos frente à frente com "esse vácuo", essa oportunidade de agir. É uma espécie de prova, uma bênção disfarçada.

Hebreus capítulo treze versículo dois nos fala sobre a hospitalidade, testemunhando que alguns ao praticarem a hospitalidade, sem saber acolheram anjos.

Ao praticarmos princípios da Palavra de Deus aproveitamos oportunidades, "preenchemos vácuos", e somos grandemente abençoados.

 

 Lucas 24: 29. Mas eles O constrangeram, dizendo: - Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar com eles.

Aqueles discípulos de repente tem uma atitude, uma reação que não conseguem imaginar as consequências, mas o fazem já inspirados por Deus, sem o saber.

Já não havia mais decepção - o coração ardia. Já não havia mais preocupação - A Palavra havia explicado tudo. Só não havia ainda a fé brotado novamente.

Naquele momento da caminhada, uma encruzilhada, uma bifurcação do caminho, certamente houve uma paradinha, quando Jesus fez menção de passar adiante. Seus pensamentos também estavam parados, não conseguiram ainda discernir que era Jesus.

E como que "sem pensar"; em uma reação meramente espontânea fazem o convite: Fica conosco.

Seus argumentos são simplistas e naturais: "Porque é tarde e o dia já declina". Ah, mas Jesus não perde oportunidade alguma, mesmo que não temos argumentos convincentes.

"Fica comigo Senhor, porque preciso" - já é o suficiente. "Fica comigo Senhor, porque não tenho ninguém". "Fica comigo Senhor, porque ... E Jesus entra pra ficar conosco.

E Jesus entrou para ficar com eles.

Jesus só espera um convite, por mais simples que seja, sem argumentos nem cerimônia. Ele até cria a oportunidade, fazendo menção de passar adiante, ou batendo à porta.

 

 Lucas 24: 30-31a. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando Ele o pão, abençoou-o e, partindo lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e O reconheceram...

A mesa significa comunhão e o partir do pão por Jesus é cear com Ele.

Para entrar na casa é preciso um convite, contudo, uma vez dentro da casa Jesus toma conta da mesa, abençoa e parte o pão.

Jesus na caminhada, não perceberam que era Ele, estavam tristes, decepcionados demais.

Jesus na conversa pelo caminho, não perceberam que era Ele, as informações não encaixavam na mente deles.

Jesus na exposição da Palavra, não reconheceram que era Ele, o coração até ardia, mas não abria.

Jesus na casa deles, não reconheceram que era Ele, já era tarde, estavam cansados.

Mas Jesus à mesa no partir do pão - é irresistível, os olhos deles se abriram e reconheceram que era Jesus.

Andar com Jesus é bom, conversar com Jesus pelo caminho é ótimo, ouvir Jesus é melhor ainda. Ter Jesus em casa - maravilha. Mas não pode faltar o momento de se "assentar com Ele à mesa e participar do Seu Pão".

Entre outras coisas, participar do pão é um simbolismo para viver em comunidade ou ao menos frequentar a igreja. É o que os discípulos vão fazer logo em seguida - voltar para Jerusalém e se reunir com os outros que já se acham reunidos.

 

 Lucas 24: 31b... mas Ele desapareceu da presença deles.

Quando os olhos daqueles discípulos finalmente abriram e reconheceram que era Jesus, Ele desapareceu da presença deles.

Anteriormente Jesus fez menção de passar adiante, agora passou para uma outra dimensão.

Esse é o segundo "vácuo" que Jesus deixa no ar e significa mais uma oportunidade de agir.

O versículo seguinte demonstra que os discípulos já fazem progresso; lembram que o coração ardia quando Jesus lhes falava a Palavra.

Lucas 24: 32. E disseram um ao outro: Porventura não nos ardia o coração, quando Ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?

Jesus desapareceu, mas deixou sua impressão. Os discípulos precisavam ser preparados para seguir em frente sem Jesus em corpo presente. Precisavam aprender a seguir o Espírito Santo que já estava com eles e em breve os revestiria.

A impressão de Jesus é o que temos hoje quando há a convicção "Jesus está aqui neste lugar". Não vemos figura alguma, nem vulto, nem sombra, mas dá pra sentir uma impressão muito forte.

Os discípulos precisavam aprender a caminhar de "olhos abertos", sem precisar ver Jesus, bastando o coração arder ao ouvirem no espírito A Palavra.

 

Lucas 24: 33. E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles.

E, na mesma hora... Já era tarde, tinham dito um pouco antes. Mas não é tarde, nunca é tarde para voltar ao propósito, para retomar o caminho e retornar à Jerusalém.

Voltaram para Jerusalém... A caminhada fúnebre os conduzira até sua aldeiasinha, ali pretendia tocar a vida e esquecer tudo o que se referia a Jesus e ao reino de Deus. Mas Jesus foi lá caminhar com eles, conversar com eles, cear com eles e reconquistá-los.

Acharam reunidos os onze... Enquanto eles perfazem o trajeto de 11 Km de volta para Jerusalém, agora apressados, Jesus já tinha reconquistado Tomé, aquele que disse que só acreditaria em Jesus ressuscitado se visse o sinal dos cravos e colocasse ali o dedo, e mão no Seu lado onde a lança O transpassou.

Os onze estavam reunidos... A reunião continua acontecendo, Jesus continua reconquistando Seus discípulos.

Deixa Jesus reconquistar você, e vem pra reunião na igreja você também.

 

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Não andeis ansiosos - Deus supre nossas necessidades

 

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; (Mateus 6: 19).

 Acumular é uma ação calculada e organizada. É a composição de um grande estoque com o objetivo de permanecer por muito tempo.

Acumular dispensa a dependência e o necessitar da intervenção de Deus. Acumular é fazer seus próprios planos; é sentir-se rico e abastado; é planejar construir para si locais de armazenamento ainda maiores.

Vestuário, peças de tecido e utensílios de ferro eram muito caras, sendo por isso considerados como tesouros. Um grande estoque desses objetos estavam forçosamente sujeitos à deterioração. Prata, ouro ou pedras preciosas enterradas em locais secretos podiam ser encontrados.

Há três consumidores dos tesouros da terra - a traça, um bicho devorador. A ferrugem, uma consequência do tempo atmosférico e do tempo cronológico. O ladrão, um ser humano ímpio.

Os tesouros sobre a terra são perecíveis - por mais guardados que estejam - por mais valiosos que sejam - não garantem nosso amparo. Neles não pode estar a nossa confiança.

O acúmulo gera tão somente uma falsa segurança e tira a oportunidade de depositar toda a confiança em Deus.

 

E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. (Lucas 12: 16).

E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? (Lucas 12: 17).

E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstrui-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. (Lucas 12: 18).

Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. (Lucas 12: 19).

Ao possuir algo em abundância a primeira coisa a fazer e ter gratidão a Deus. Em seguida, a direção de fazer para fazer a aplicação e dar o destino correto.

No entanto o personagem dessa história não se reportou a Deus. Pelo contrário, encheu-se ou inchou-se do seu próprio ego. Conversava consigo mesmo como se ele fosse duas pessoas em uma.

"Arrazoava consigo mesmo". Discutia, conversava, deliberava, perguntava e respondia. Assim decidiu por si mesmo em favor de si próprio, e conclui dirigindo-se enfaticamente à sua alma.

"Tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te".

- Acumulou os tesouros da terra, fazendo grandes planos para curtir a vida. Sem saber que naquela mesma noite sua vida seria roubada e corroída pela morte.

Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lucas 12: 20).

Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. (Lucas 12: 21).

 

Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio! Ela não tem nem chefe, nem supervisor, nem governante, e ainda assim armazena as suas provisões no verão e na época da colheita ajunta o seu alimento. Provérbios 6: 6-8.

 

Acumular tesouros sobre a terra é bastante diferente de armazenar provisões. Armazenar provisões, guardar, poupar faz parte da sabedoria de Deus. Pois o mesmo Deus da providência também preza a previdência, provendo direção e sabedoria para isso.

A formiga não desperdiça o bom tempo do verão; não desperdiça o tempo da abundância, mas aproveita-os para ajuntar mantimentos. Esse armazenamento tem um objetivo prático e funcional - prover a necessidade no tempo do inverno, no tempo da dificuldade.

A formiga ajunta o seu alimento sem acumular riquezas; faz provisão sem inflar o seu ego achando-se abastada. A formiga lança mão da sabedoria de Deus e não da cobiça dos olhos.

A palavra nos ensina a imitar a formiga. Trabalhar com afinco quando tiver a oportunidade e ajuntar com sabedoria para o tempo da escassez. Não se trata de ajuntar tesouros ou gastar em coisas supérfluas, mas de prever o suprimento das necessidades básicas.

 

 Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não irrompem nem roubam; (Mateus 6: 20).

Ajuntar significa acrescentar um pouquinho a cada dia até que no final forme um todo suficiente. Ajuntar não denota preocupação de contabilizar, de saber o quanto já tem. Ajuntar é trabalhar e colocar o fruto no depósito de Deus.

No céu não temos estoque de fé - é preciso exercitá-la todo dia. No céu não temos estoque de oração, é preciso orar todo dia. Os tesouros ajuntados no céu são tesouros vivos - precisam ser alimentados e cuidados a fim de permanecerem para a vida eterna.

No céu não acumulamos - ajuntamos devagarinho no decorrer da longa caminhada cristã pela estrada estreita da existência.

Mas o interessante é de tudo o que for ajuntado nada vai ser perdido ou roubado. No céu não há traça, nem ladrão nem ferrugem.

Os tesouros ajuntados no céu são guardados no coração do Todo Poderoso, desde que não desfalecermos na jornada da fé em Cristo Jesus.

 

Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (Mateus 6: 21).

O tesouro é abrangente no tocante a capturar todo o nosso sentido, nossos sentimentos, pensamentos, preocupação. O tesouro prende o coração. O tesouro domina os sentidos

Antes mesmo de ser tesouro - ou seja, quando ainda é o trabalho, quando é ainda a labuta por conquistá-lo - já captura o coração e provoca preocupação e ansiedade.

O coração já está na tarefa de conseguir tesouros de tecido, tesouros de ferro e tesouros de coisas preciosas.

A traça, a ferrugem e o ladrão acabam por corroer e roubar antecipadamente o próprio coração e não somente os tesouros perecíveis.

As ocupações em busca dos tesouros dessa terra roubam o tempo com Deus. As preocupações por conta dos tesouros dessa terra deterioram o sentido e os pensamentos do coração em forma de ansiedade.

Mas se o tesouro estiver no céu, é no céu que vai estar o coração; protegido da ansiedade, guardado da preocupação.

É certo que precisamos ir à luta, trabalhar pelo pão nosso de cada dia provido por Deus. É certo que como ser humano mantemos nossos pequenos tesouros sobre a terra, mas vamos labutar e trabalhar no automático, deixando o coração guardado junto aos verdadeiros tesouros celestiais.

 

Os olhos são a lâmpada do corpo. Portanto, se teus olhos forem bons, teu corpo será pleno de luz. (Mateus 6: 22).

Os olhos são a lâmpada do corpo. Os olhos também são a janela da alma.

Olhos bons, tenros ou simples, são olhos que não cobiçam os tesouros sobre a terra. São olhos sábios, sensatos, moderados. São olhos que em tudo dá graças, que não se inflamam de inveja, que não crescem diante da conquista de outrem.

Essa atitude bondosa dos olhos impede a ansiedade de tomar fôlego e consequentemente a luz, a claridade dos pensamentos e sentimentos reinam.

A luz é o bem estar psicológico, é a paz interior, é a vida espiritual ativa e funcional. A luz é a presença de Deus.

 

 Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mateus 6: 23).

Se os olhos cobiçarem os tesouros sobre a terra as trevas tomarão conta do corpo. Não haverá luz. As lâmpadas tornar-se-ão negras e o que se pensava fosse luz será trevas.

Há um engano quando desejamos algo, sonhamos algo que aos nossos olhos parece bom mas aos olhos de Deus é mal.

Nossos olhos são a lâmpada - não a luz. Devem brilhar com a luz de Deus, através do óleo de Deus.

O combustível das nossas lâmpadas não pode ser algo qualquer - não pode ser o entusiasmo por alguma coisa, a euforia dos momentos, o êxtase dos desejos. Esses combustíveis dão uma luz que logo se apaga e vira trevas.

A verdadeira e duradoura Luz é Jesus. Nossos olhos precisam estar fitos Nele para que possam brilhar sempre; para que possam brilhar de verdade na Luz que jamais se apaga nem dá lugar às trevas.

 

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. (Mateus 6: 24).

Não existe a possibilidade de viver dividido; seja entre duas tarefas, dois pensamentos, dois posicionamentos ou dois senhores. Se tentar, inevitavelmente, um deles será esquecido e deixado de lado em algum momento, pelo menos no tempo dedicado ao outro.

Não se pode servir a Deus e às riquezas ao mesmo tempo.

Jesus usou como premissa "a pretensa dedicação a dois senhores" e para "riquezas" Ele usou o termo "mamom". (Não podeis servir a Deus e às riquezas).

Mamom é uma espécie de personagem, como se fosse um ser, um deus, um senhor. Mais precisamente é a personificação da cobiça pelas posses, riquezas e dinheiro. A cobiça carrega consigo a inveja e a ansiedade. Tornar-se servo de "mamom" só acarreta escravidão, preocupação e ansiedade.

Deus é o verdadeiro Senhor.

 

Por isso vos digo: Não andeis ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? (Mateus 6: 25).

A comida e as vestes são perecíveis. A comida estraga-se, as vestes se acabam com o uso e com o tempo.

Embora sejam coisas necessárias ao andamento da vida não devem tomar conta da vida, não podem tornarem-se senhores a quem ou a que devotamos todo tempo, ocupação, preocupação e pensamento.

A ansiedade tem que dar lugar à confiança de que DEUS está cuidando de nós. O tesouro está nos céus. Os olhos são simples. O Senhor é Deus.

A vida e o corpo são mais importantes do que as vestes e o mantimento, portanto Deus os provê de alguma forma, por esforço, trabalho, oportunidade ou milagre.

Temos observado uma inversão de valores tanto na sociedade em geral como na comunidade cristã. Dá-se mais valor aos banquetes do que à vida com Deus. Dá-se mais valor às roupas do que apresentar o corpo como sacrifício vivo e santo ao Senhor.

Se tão somente dermos o valor devido à vida com Deus e ao corpo consagrado ao Senhor - a ansiedade não terá lugar pra existir nem meios de continuar a agir.

Não ande ansioso. Antes de sair pra viver o dia da labuta, ajoelhe ou assente-se diante de Deus. Acalma o coração, aquieta a alma e saiba que o Senhor é Deus de promessas, é Deus de Palavra, é Deus de amor, graça e misericórdia para com as nossas vidas.

 

Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? (Mateus 6: 26).

As aves não possuem um depósito ou um celeiro de mantimentos. Não tem como plantar nem como ajuntar colheita. No entanto tem que sair à procura de sua comida. Assim, o sustento é de Deus.

Mesmo que não seja possível semear, colher e ter em depósito é preciso crer no Deus da providência. O Pai que providencia o pão de cada dia.

Jesus disse que "nós - seus discípulos seguidores - valemos muito mais do que as aves". O cuidado de Deus para conosco deve ser proporcionalmente maior.

Deus pode prover o produto da colheita ou a "terra" para semear, uma vez que também já nos capacitou para ir à luta de cada dia.

 

Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? (Mateus 6: 27).

A ansiedade não ajuda, não apressa nem agiliza o andamento das coisas. A ansiedade não acrescenta nada. A ansiedade só apavora e desestabiliza as emoções.

Ao invés de ficar pensando as coisas, tendo preocupações acerca do que comer ou do que vestir, Jesus nos mandou observar as aves do céu e os lírios do campo. Pois eles não tem preocupações. Simplesmente vivem com aquilo que conseguem adquirir ou produzir.

As aves e as flores também enfrentam tempos de escassez como o tempo do inverno, ou as temporadas de seca, no entanto Deus o Pai está sempre no controle de todas as coisas.

A ansiedade não resolve, só atrapalha - porque tira a paz e danifica a confiança em Deus.

Aquieta a alma, sossega o coração, deixe espaço para a fé no Todo Poderoso fazer o impossível acontecer.

Assim, como a criança desmamada fica quieta nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranquilo, e o meu coração está calmo dentro de mim. (Salmos 131: 2).

 

E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? (Mateus 6: 28-30).

É razoável a ansiedade dos discípulos seguidores de Jesus em tempo integral. Eles não tinham salário, não tinham renda nem levavam consigo volumosa bagagem. Provavelmente possuíam a roupa do corpo e mais uma ou duas "mudas", todas já severamente castigados pelo tempo.

"Nossas vestes estão se acabando e o Mestre não fez milagre de multiplicação de vestuário" - poderia algum deles pensar.

Não tinham um guarda-roupas, nem mesmo uma mala de viagens. Judas, o tesoureiro da equipe, não dispunha de tantos recursos nem coração para tal.

Sendo assim, a ansiedade como um ladrão roubava-lhes a paz, como traça, corroía-lhes a confiança, como ferrugem, deteriorava lhes a esperança.

Estavam com Jesus, conviviam com Jesus - portanto participavam de Seus desafios e privações. Deviam estar inteirados disso.

Mas Jesus está muito à frente na reflexão e na experiência de vida com o Pai - "No momento certo Deus Pai entra com providência". Deus Pai veste de esplendor as ervas do campo quanto mais àqueles que tem fé - mesmo que seja pequena. Jesus afirma convicto e ensina a lição.

 

Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; (Mateus 6: 31-32).

Comer, beber, vestir - as necessidades básicas dos discípulos de Jesus tornaram-se motivo de preocupação em um certo momento da caminhada com Cristo.

Nossa vida atualmente também passa por esses revezes. Somos cristãos, amamos a Deus, procuramos ser fiéis e viver em santidade e mesmo assim passar momentos difíceis nas finanças, na saúde ou qualquer outra área.

Ficamos desanimados, desesperançados às vezes mesmo com Jesus ao lado. Mas o interessante disso tudo é que Jesus conhece o nosso interior e não fica calado, Ele ministra e fala aos nossos corações a Sua Palavra.

- "Vosso Pai Celeste sabe que necessitais das coisas básicas". "Não fiquem inquietos, perguntando-se como serão supridas as vossas necessidades".

Não andeis ansiosos por motivo algum; pelo contrário, sejam todas as vossas solicitações declaradas na presença de Deus por meio de oração e súplicas com ações de graça. (Filipenses 4: 6).

 

Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo. (Mateus 6: 33-34).

A concentração do pensamento precisa estar em Deus em primeiro lugar. As coisas necessárias à sobrevivência são um acréscimo, elas acontecem logo após em segundo lugar. E assim segue a benção do Todo Poderoso sobre as demais áreas da vida.

Se o amanhã está nas mãos de Deus não devemos gastar o precioso tempo do presente inquietando-se com o amanhã. Porque cada dia tem a sua luta, suas adversidades para serem vencidas.

Cada dia já possui sua carga suficiente para nossas forças. Antecipar e acrescentar sobre hoje ansiedades do amanhã apenas nos sobrecarregam.

Deixa Deus operar. Deixa Deus fazer nascer um novo dia antes de se preocupar com qualquer coisa.

 

E, quando se evaporou o orvalho que caíra, na superfície do deserto restava uma coisa fina e semelhante a escamas, fina como a geada sobre a terra. Vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? Pois não sabiam o que era. Disse-lhes Moisés: Isto é o pão que o SENHOR vos dá para vosso alimento. (Êxodo 16: 14-15).

Havia se passado 28 dias desde a saída do Egito, "a compra do mês" acabara. Não havia celeiro nem salário. Não havia despensa nem colheita. Não havia perspectiva alguma de provisão. A murmuração, a ansiedade e o desespero cobria a confiança e a fé como um espesso orvalho.

Mas é em pleno deserto que Deus faz chover a benção. A princípio uma coisa estranha - orvalho no deserto - em seguida algo esquisito, uma coisa nova, não conhecida, chamada de "uma coisa fina semelhante a escamas".

Essa coisa levou as pessoas a perguntarem em sua língua: -"Manah?" Que significa literalmente "O que é isso?"

Não ache estranho o novo jeito de Deus te sustentar. É algo presente na terra mas gerado no céu. Pode parecer um fenômeno natural mas é Deus. Pode estar escondido debaixo do orvalho mas está lá.

Quando a incredulidade evapora é possível viver o milagre de Deus. E a coisa esquisita aos nossos olhos, na verdade é a providência do céu.

A coisa nova e esquita adquiriu o nome de manah, o pão do céu, o pão que Deus dá e que na verdade estava espalhado sobre a terra do deserto aguardando o trabalho da colheita.

Esses contrastes são a especialidade de Deus de tirar de onde não tem, de fazer existir o que não existe, de realizar milagres e nos suprir mesmo quando tudo ao nosso redor é deserto e terra seca.

 

Era o maná como semente de coentro, e a sua aparência, semelhante à de bdélio. Espalhava-se o povo, e o colhia, e em moinhos o moía ou num graal o pisava, e em panelas o cozia, e dele fazia bolos; o seu sabor era como o de bolos amassados com azeite. (Números 11:7-8).

O maná era também como semente de coentro e parecido com uma resina aromática conhecida como 'bdélio' destilada por certa árvore.

Aos poucos o povo foi se acostumando com o novo desconhecido e tendo que adaptar-se com a nova realidade de sobrevivência e subsistência.

Eram tempos difíceis ao ego do ser humano - todo dia a mesma rotina, o mesmo alimento, o mesmo sabor, que para a maioria ia perdendo o gosto.

Existem determinados tempos em nossas vidas - os tempos de deserto - que infelizmente não brotam oportunidades. É quando precisamos nos alegrar no Senhor, contentando a alma com 'aquilo' que Ele nos permite recolher.

A sementinha, a escama, a resina podia não ser apetitosa mas garantia o sutento e a nutrição. Ademais era possível manipular um pouco na culinária. Só era preciso o empenho para moer ou pilar, amassar e levar ao fogo.

O maná - o pão que vem do céu - é para o sustento no deserto, não significa uma vida abastada repleta de variedades e possibilidades de escolha.

Porque passar pelo deserto importa satisfazer-se em Deus, passar pela prova sem murmurar desejando chegar o mais rápido possível à terra que mana leite e mel.

 

Assim ordenou o SENHOR: ‘Cada chefe de família deve recolher todo dia a quantidade suficiente para a sua família, uma tigela por pessoa’. (Êxodo 16: 16).

O maná não podia ser armazenado para o outro dia. Era como viver a oração que Jesus ensinou: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje".

Se fosse guardado para o outro dia estaria estragado e cheio de bicho. Estavam sendo ensinados a não acumular tesouros sobre a terra onde o bicho come. Estavam sendo ensinados a não estribar-se na própria astúcia, mas depender e confiar na provisão de Deus.

Portanto todo dia havia o suficiente para todos, só precisava levantar cedo e recolher a medida estipulada para cada um. Não faltava nem sobejava. Todos eram iguais diante do Senhor.

O interessante é que na sexta-feira era permitido colher em dobro e guardar para o dia de descanso e desse vez não estragaria. Deus estava ensinando que obedecer à Sua voz é o mais importante de tudo - é o que realmente nos faz vencer os desafios de cada dia.

Deus sabe a medida exata que cada um de nós necessita. Ele derrama dos céus de algum modo, de forma que possamos dizer: "Obrigado Papai, pelo pão nosso de cada dia".

 (Osvaldo Alves)